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A mulher que revolucionou a cachaça brasileira

Professora Maria das Graças Cardoso: ciência, coragem e tradição colocam Minas no mapa mundial da cachaça

Por Simone Paiva, Analista de Comunicação da FUNDECC – 01 de dezembro de 2025


Ela quase nunca bebe cachaça — mas talvez ninguém no Brasil entenda tanto sobre ela. Maria das Graças Cardoso, professora da Universidade Federal de Lavras (UFLA), dedicou mais de 25 anos à missão de estudar, proteger e elevar a qualidade da bebida símbolo da identidade cultural brasileira.

Determinada e persistente, enfrentou preconceito, resistência e disputas técnicas em um setor historicamente masculino e transformou alambiques artesanais em referência mundial de qualidade. Junto com seus alunos e parceiros, descobriu a origem do carbamato de etila, contaminante carcinogênico que impedia exportações, formou gerações de pesquisadores, orientou produtores e construiu uma estrutura científica inédita no país.

Hoje, reconhecida no Brasil como a “Mulher da Cachaça”, ela se prepara para o passo mais ousado de sua trajetória: certificar oficialmente a cachaça brasileira, garantindo laudos reconhecidos internacionalmente e abrindo novas fronteiras comerciais para os produtores.
É a próxima virada de chave de uma história movida por coragem, fé e ciência.

A virada histórica da cachaça

Em 1997, quando recebeu o convite da UFLA para estruturar um laboratório voltado ao álcool combustível, tomou a decisão que mudaria sua vida e a do setor:

“Eu disse que álcool eu não faria. Mas cachaça, se me dessem oportunidade, eu faria. ”

Nascia ali o trabalho que tiraria a cachaça da clandestinidade. Na época, o mercado era marcado por desinformação, mitos e irregularidades técnicas. A professora enxergou o potencial científico e socioeconômico da bebida — e decidiu enfrentar o desafio.

O estudo mais longo e decisivo foi a elucidação da formação do carbamato de etila. Por 12 a 14 anos, seu grupo investigou dezenas de hipóteses até descobrir que o precursor do contaminante estava no ponteiro da cana, parte superior da planta onde se concentram aminoácidos específicos. Bastou retirar o ponteiro no processamento para eliminar o problema.

“Quando descobrimos, foi um orgulho imenso. Significou segurança, qualidade e exportação. ”

Também liderou orientações técnicas para controle de metanol e parâmetros de destilação — filtragem do caldo e separação das frações (cabeça, coração e cauda) — hoje referências adotadas em todo o país.

Centro de Referência Nacional

A pesquisadora coordena o CRAQC – Centro de Referência em Análises da Qualidade da Cachaça da UFLA, estrutura com aproximadamente 300 m², três laboratórios totalmente equipados, cromatógrafos, espectrômetros, área de destilação e anfiteatro.

O Centro já analisou mais de 400 amostras (dados de 2024 até o presente), vindas de Minas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e outros estados.

A consolidação do CRAQC foi possível graças ao investimento institucional e ao trabalho coletivo: quase R$ 5 milhões já foram aplicados em equipamentos, estrutura e projetos — com apoio da FAPEMIG, das Políticas Públicas e da FUNDECC na gestão administrativa e financeira.

“Se não fosse a FUNDECC e sua gestão atual, não teríamos chegado até aqui. Hoje o CRAQC está completo e pronto para um novo salto. ”

Certificação: o próximo marco

O Centro iniciou os procedimentos para certificação pelo Inmetro, que permitirá emitir laudos oficiais reconhecidos internacionalmente para exportação.“A certificação vai agregar valor real à cachaça brasileira e fortalecer o produtor.

Educação, inovação e impacto

A professora e o grupo da UFLA relacionados à cadeia produtiva da cachaça oferecem anualmente cursos de extensão com vagas disputadas e mantém o Simpósio Brasileiro de Cachaça de Alambique, que chegou à 3ª edição em 2025 reunindo pesquisadores e produtores de todo o país.

Reconhecimento e legado

Só em 2025, a professora recebeu cinco premiações, incluindo Mulher Destaque – EMATER 2025, além de prêmios da UFLA, FAPEMIG e CONFAP. Já acumula mais de 20 premiações ao longo da carreira.

É autora e editora da obra referência “Produção de Aguardente de Cana-de-Açúcar”, hoje na 4ª edição e a caminho da 5ª.

“O produtor que estuda esse livro faz uma bebida excelente. ”

A mulher por trás da pesquisadora

Na vida pessoal, Graça valoriza simplicidade: Descansa em Abreus, seu distrito natal; lê Cecília Meirelles; dedica tempo à família e amigos; preserva fé e gratidão. Adora caminhar na UFLA nos finais de semana e no bucólico distrito de Abreus.

“Reconhecimento é ter o apoio dos meus alunos e produtores. E felicidade é estar viva, fazendo o que se ama. ”

Fonte: https://fundecc.org.br/a-mulher-que-revolucionou-a-cachaca-brasileira/

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